De Volta ao Básico: A importância da defesa pessoal para o Jiu Jitsu.

11/08/2020

O surgimento das técnicas que acabaram por formar o que praticamos e estudamos em nosso dia-a-dia nos tatames, se deu na Índia e foi realizado por monges budistas.

Preocupados com a auto defesa e por não poderem utilizar armas pelos princípios de sua religião, os monges desenvolveram um sistema de técnicas baseado no equilíbrio, nas articulações do corpo e em alavancas, evitando o uso de força.

Com a expansão do budismo, o Jiu Jitsu percorreu o sudeste asiático, a China e então chegou ao Japão, onde foi aperfeiçoado e popularizado.

A partir do século XIX, alguns mestres migraram para outros continentes com o objetivo de ensinar sua arte e desafiar praticantes de outras artes marciais.

Esai Maeda Koma (também conhecido por Conde Koma), um célebre instrutor japonês, chegou ao Brasil em 1915 e fixou-se em Belém.

Foi então que conheceu Gastão Gracie, que se tornou um entusiasta do Jiu Jitsu e levou seu filho mais velho, Carlos, para aprender as técnicas do professor japonês.

Em 1925, Carlos fundaria a primeira academia Gracie, onde seguiria aperfeiçoando a arte e transmitindo seu conhecimento a seus irmãos.

As inovações técnicas e extrema eficiência no uso de alavancas para vencer oponentes em sua grande maioria mais fortes e pesados, trouxeram notoriedade para a família, que seguiria em sua jornada de aprimoramento e disseminação do Jiu Jitsu e produziria gerações de grandes lutadores.

O Jiu Jitsu se espalhou pelo mundo, atingindo proporções antes não imaginadas, sendo lapidado e explorado por milhares de praticantes.

 

VOLTANDO AO BÁSICO.

O motivo pelo qual eu trouxe de forma breve a história da nossa arte à tona, é levantar um tema que acredito ser de extrema relevância para nosso esporte no momento: a importância da defesa pessoal para o Jiu Jitsu.

O Jiu Jitsu é por definição, uma arte marcial. Ou seja, tem como principal objetivo, possibilitar a defesa pessoal em uma situação de risco, sem regras.

O termo hoje contempla várias vertentes, e as artes marciais são utilizadas em diversos âmbitos, notoriamente o esportivo, visando aprimoramento físico e mental.

No entanto, é importante estarmos conectados com nossas raízes para que o crescimento seja sustentável.

Com a expansão do Jiu Jitsu como esporte e o grande enfoque dado ao cenário competitivo, o desenvolvimento e aprimoramento técnico seguem em ritmo acelerado e o esporte cresce exponencialmente.

Porém, nota-se que cada vez mais faixas-preta são formados e atuam nos níveis de elite do esporte, sem terem em seu currículo a formação de defesa pessoal que é a base de toda a construção do que praticamos, inclusive nas competições.

 

“O Jiu-Jitsu que criei foi para dar chance aos maisfracos enfrentarem os mais pesados e fortes.

E fez tanto sucesso, que resolveram fazer um Jiu-Jitsu de competição.” – HÉLIO GRACIE

 

NÃO É PAPO DE “OLD SCHOOL”.

Quando essa discussão é levantada, é muito comum que devido à variedade de técnicas avançadas que são desenvolvidas e aprimoradas a cada dia, a necessidade de se ensinar o sistema de defesa pessoal seja questionada.

Mas é importante ressaltar, que não se trata de uma rixa old school x new school. A importância da defesa pessoal para o Jiu Jitsu vai muito além de uma questão técnica.

Obviamente, um atleta de alto rendimento e com uma boa proficiência técnica, será capaz de se defender em uma situação de agressão.

Porém, nosso olhar sob essa questão precisa ser mais amplo.

Quando pensamos na trajetória de um aluno desde o início, a metodologia de defesa pessoal é de extrema importância para que esse praticante possa ser introduzido à complexidade do Jiu Jitsu de uma forma estruturada e clara.

Transmitir para um iniciante como ele pode se defender de uma agressão óbvia e simples como um tapa, é muito mais simples e esclarecedor do que tentar fazê-lo executar uma raspagem, por exemplo.

Dessa forma, começamos a tirar o aluno do processo instintivo e trazê-lo para o processo técnico e racional.

A partir do ensinamento dos conceitos básicos de defesa pessoal de forma estruturada, a imersão do aluno em todo o universo que engloba o Jiu Jitsu acontecerá de forma mais orgânica, segura e eficiente.

 

O Jiu Jitsu se torna então, mais inclusivo. Aquele praticante que não está em sua plena forma física ou ainda se sente inseguro em relação a praticar uma arte marcial, poderá ser introduzido através de um processo que será de fácil compreensão e execução.

 

EQUILÍBRIO É A CHAVE.

Como é de conhecimento de todos, sou um dos principais adeptos à evolução e crescimento do Jiu Jitsu.
E sem dúvida, a competição é a grande vitrine para que isso seja possível.

A diversidade de competições, nível técnico e preparo físico impressionantes dos atletas desde as faixas de base, vem impulsionando o esporte em proporções astronômicas.

Mas é essencial compreender que há uma imensidão além dessa vitrine.

Mais que uma tradição, os conceitos que permitiram o desenvolvimento do Jiu Jitsu como arte marcial e o foco em eficiência técnica, são os elementos que o tornam único e possível de ser aprendido, praticado e desfrutado por qualquer um.

 

JIU JITSU PARA TODOS.

Mais que uma declaração sobre a importância da defesa pessoal para o Jiu Jitsu, esse texto vem como uma reflexão.
De que devemos seguir em frente, mas valorizando nossa história.

Dessa forma, conseguiremos seguir no caminho de construção e ampliação de um Jiu Jitsu que seja uma ferramenta de aprimoramento, auto conhecimento e defesa para todos.

 

Um abraço

 

Fabio Gurgel

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